Famílias de Mogi das Cruzes temem retrocesso no tratamento de filhos com autismo após mudança em plano de saúde
28/10/2025
(Foto: Reprodução) Danilo, de 9 anos, tem autismo nível de suporte 2
Kátia Carvalhaes/Arquivo pessoal
Crianças e jovens que estão no Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm uma rotina intensa por conta do tratamento que envolve diversos profissionais, como psicoterapeuta, psicopedagogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e até fisioterapeuta.
O TEA é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma condição do neurodesenvolvimento que afeta as habilidades de comunicação social e os padrões de comportamento.
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O tratamento proporciona que eles evoluam no processo de aprendizado e ganhem independência. Por isso, um grupo de pais de Mogi das Cruzes está preocupado com a interrupção do tratamento dos filhos.
Uma operadora de saúde descredenciou as clínicas onde os filhos passavam por acompanhamento profissional. Os pacientes serão atendidos na rede própria da operadora. Embora não estejam desassistidos, os pais temem que os filhos regridam.
A Hapvida NotreDame informou que reforça o compromisso com um atendimento humanizado, seguro e de qualidade às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A operadora destacou que a rede conveniada dispõe de estrutura adequada e profissionais capacitados, garantindo o cumprimento dos planos terapêuticos conforme as necessidades individuais (veja abaixo a nota na íntegra).
Para o psiquiatra e presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, Luiz Sampaio, parar com essas atividades pode trazer risco à evolução dos pacientes com TEA.
"Isso é prejudicial para qualquer especialidade médica, não apenas nas doenças mentais, já que impacta diretamente a continuidade do cuidado e da evolução do paciente".
Sampaio explicou que não existe um protocolo de tempo para atendimento dos pacientes.
Como se trata de um espectro, há uma gama ampla de comportamentos, que vão desde os graus mais leves com maior adaptação social, até os mais complexos que exigem cuidados para a sobrevivência.
Outro ponto abordado pelo psiquiatra é a relação entre paciente e profissional, que é extremamente complexa.
"Às vezes o vínculo acontece, outras vezes não acontece, independente da competência ou empatia do profissional", destacou.
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Preocupação
Os filhos da administradora de empresas Kátia Astorino Carvalhaes foram atingidos pelo descredenciamento de clínicas em Mogi das Cruzes. Danilo Astorino Gomes Carvalhaes, de 13 anos, é autista de nível de suporte 2, e o irmão dele, Murilo Astorino Gomes Carvalhaes, de 23 anos, é autista de nível 1.
Os meninos estão há algumas semanas sem acompanhamento terapêutico e Kátia já notou regressão no comportamento dos filhos, principalmente em Danilo.
“Está mais agressivo, nervoso, a rigidez cognitiva está maior. Ia fazer seis anos de acompanhamento com psicoterapia e dois anos com psicopedagogo. Ele aprendeu várias coisas, mas o mais notável é o autocontrole. A gente conseguia sair com ele, comer fora, mas agora está mais complicado de sair com ele na rua, a luz incomoda, as pessoas incomodam, ele começa a ficar irritado”, detalhou.
Ela relatou que os meninos passam por acompanhamento em clínicas especializadas diferentes, em Mogi das Cruzes. No entanto, a Hapvida NotreDame descredenciou essas clínicas e migrou o atendimento deles para a rede própria.
“O mais novo fazia psicopedagogia, psicoterapia ABA, musicoterapia e fono. Por conta do convênio, eu tive que dividir o tratamento dele em duas clínicas. As duas que ele fazia foram descredenciadas”, contou.
Segundo a Hapvida NotreDame, não houve interrupção de tratamentos, todos os pacientes continuam assistidos por equipes multidisciplinares, com aplicação do método ABA. A transição entre clínicas, de acordo com a empresa, é conduzida de forma cuidadosa, com diálogo constante com as famílias, assegurando a continuidade do cuidado (leia a nota completa abaixo).
Já Murilo, que tem o diagnóstico recente de TEA, passava por psicoterapia convencional, psicoterapia em grupo, fono e psicopedagogia devido ao TDAH.
Danilo em uma das terapias que fazia em uma clínica de Mogi das Cruzes
Kátia Carvalhaes/Arquivo pessoal
Kátia mencionou que, com as terapias, Danilo havia melhorado 100%, mas agora a família nota uma piora diária. Praticamente todos os dias, ela recebe ligação da escola para ir buscar o filho porque ele entrou em crise. “E isso praticamente não acontecia mais, dele ter crises na escola.”
Para a administradora de empresas, é importante que os filhos continuem o acompanhamento com os profissionais com os quais já estão acostumados, pois o processo de vínculo entre pacientes com TEA e profissional é longo e dificultoso.
“No começo, foi complicado criar vínculo com as terapeutas, ele [Murilo] não queria ficar na sala. Tem uma terapeuta que atende ele desde quando fechou o diagnóstico, está com ele há seis anos. Ele fala todos os dias que sente falta, principalmente dessa terapeuta."
Esse também é o caso de Olavo Ribeiro Barbosa, de 7 anos, que é autista nível 2 e tem síndrome de Down. Marcelo Barbosa dos Santos contou que o filho fazia acompanhamento com terapeuta ocupacional, psicóloga e fonoaudióloga, nas mesmas clínicas de Murilo.
Segundo Marcelo, o dia 26 de setembro foi o último em que Olavo passou por atendimento nas clínicas. “Ele tinha terapia todos os dias, mais de uma terapia por dia. Os atendimentos em uma clínica começaram há 30 meses e na outra há mais de um ano. Foi uma ruptura muito abrupta.”
Marcelo explicou que, neste tempo sem tratamento, o filho começou a apresentar regressão. Como a diminuição das frases balbuciadas e aumento da irritabilidade no comportamento, o que não acontecia durante o atendimento terapêutico.
“A luta de um pai ou mãe atípico não é só pra evolução, mas para a não regressão também.”
Paloma Euzébio é mãe de Dalila Euzébio, de 9 anos, que é autista nível de suporte 1. A clínica em Mogi das Cruzes, onde a criança faz psicoterapia, já foi notificada de que será descredenciada pelo plano.
O receio de Paloma é que a filha piore com a interrupção no tratamento. “Ela é bem complicada de adaptar com profissionais e ambiente. A última vez que saiu da rotina dela e do ambiente no qual ela estava acostumada, ela acabou tendo crise e o comportamento também muda”, relatou.
Dalila passa por essa clínica há dois anos. O processo de adaptação foi muito complicado. Agora, ela está adaptada aos profissionais e com o espaço.
“Agora tem que parar um ciclo para iniciar outro em um local que eu nem sei como vai ser”, desabafou Paloma.
O que diz a Hapvida NotreDame
Por meio de nota, a operadora Hapvida NotreDame informou que:
“A operadora reforça o compromisso com um atendimento humanizado, seguro e de qualidade às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A rede conveniada dispõe de estrutura adequada e profissionais capacitados, garantindo o cumprimento dos planos terapêuticos conforme as necessidades individuais.
Os ajustes realizados na rede seguem integralmente os protocolos e prazos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Não houve interrupção de tratamentos, todos os pacientes continuam assistidos por equipes multidisciplinares (psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia, nutrição, entre outras), com aplicação do método ABA. A transição entre clínicas é conduzida de forma cuidadosa, com diálogo constante com as famílias, assegurando a continuidade do cuidado. A rede conta com seis clínicas de referência em Mogi das Cruzes e tem projeto de expansão em andamento na região.
A Companhia ressalta que não há consenso científico de que a troca de equipe cause prejuízos comportamentais e, em alguns casos, a mudança pode favorecer a socialização e o desenvolvimento de novas habilidades. A empresa segue em contato com os responsáveis, prestando todo o suporte e garantindo a continuidade do tratamento.”
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